Agências internacionais de textos costumam suprir de material a imprensa mundial, e não é de hoje —as americanas fazem isso há mais de centena anos. Não é uma prática ruim. Alguns artigos são divertidos e de interesse universal. Até há não muito, eles chegavam às redações em inglês ou galicismo e eram traduzidos e adaptados por um redator, que se encarregava de pespegar-lhe um ou outro toque pátrio —nos anos 1970, eu próprio cansei de fazer isto na revista Manchete.
Não é mais assim. Pelo que tenho visto, o material agora chega pronto da origem, já “traduzido” para o português —nitidamente por um computador—, e vai tal qual para os sites, sem correções ou checagens. E, porquê não passa por ninguém, sai com todos os erros do original. O mais hilariante são os títulos de filmes clássicos, que o computador traduz ao pé da letra, ignorante de que, no Brasil, eles ganharam títulos próprios pelos quais ficaram conhecidos. Exemplos:
“E o Vento Levou” (“Gone With the Wind”), de Victor Fleming, se tornou “Foi-se Com o Vento”. “Quanto Mais Quente Melhor” (“Some Like it Hot”), de Billy Wilder, virou “Alguns Preferem Quente”. “Rastros de Ódio” (“The Searchers”), de John Ford, “Os Buscadores”. “Meu Ódio Será Tua Legado” (“The Wild Bunch”), de Sam Peckinpah, “O Quadrilha Selvagem”. Nem o pobre Hitchcock escapou: “Janela Indiscreta” (“Rear Window”) transformou-se em “Janela Traseira”.
“Matar ou Morrer” (“High Noon”), de Fred Zinnemann, ganhou a tradução literal de “Meio-Dia” (quando o sol está mais a pino), embora “high noon” seja também, por incrível que pareça, “matar ou morrer” —uma decisão sátira, um confronto mortal, porquê o de Gary Cooper. De qualquer jeito, é melhor do que o título do filme na França, “Le Train Sifflera Trois Fois”, adotado em Portugal porquê “O Comboio Apitou Três Vezes”.
Mas a prova de que não precisamos de computadores para fazer besteira é o título de um filme de 1954, “East of Sumatra” —a leste de Sumatra, evidente—, lançado cá porquê “Ao Sul de Sumatra”.