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Fernanda Torres está rompendo com a estética patriarcal da sedução

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Agora ela se apresenta em Santa Barbara, na Califórnia, para mais uma entrevista do giro de premiações vestida em uma roupa totalmente fechada da cabeça aos pés. Sai da plateia, vai andando pelo palco até seu lugar e senta-se ao lado do entrevistador, que a observa. Nessa hora, cruza uma perna sobre a outra e revela o decote que expõe, de forma inesperadamente sensual, sua pele: segmento pequena da coxa, joelhos, pernas.

Dias antes vimos Bianca Censori entrar fechada em um casaco de pele no tapete vermelho do Grammy, testemunhamos Censori tirar o casaco e expor seu corpo nu ao lado de Kanye West, que a olhava com mando e parecia comandar as ações do corpo dela. Uma imagem desconfortável, nauseante e intrigante. Falava de liberdade ou de vexame? Se era de liberdade, ninguém entendeu zero. Se era de vexame, entendemos e repudiamos.

Corta.

Na ensolarada Santa Barbara, Fernanda sobe ao palco fechada em um figurino aparentemente tão opressor quanto o casaco de pele de Kanye West (foquemos no varão). Até que Fernanda cruza as pernas e tudo vira de ponta-cabeça.

A cruzada de perna dela se opõe as pernas abertas de Sharon Stone na cena clássica do cinema na medida em que rompe com a naturalização da estética da sedução formatada pelo patriarcado. A de Stone – ainda que arrebatadora – opera dentro dos contornos aceitáveis das regras desse jogo opressor e objetificante. Fernanda está prestes e rasgar o roteiro. Ela cruza uma perna sobre a outra e encara a audiência. Ela sabe o que está fazendo: está virando do avesso a estilização do libido do olhar masculino. Está interrompendo, ainda que por instantes, o padrão criado para que a diferença de poder seja erotizada. Ela sorri um sorriso maroto. Seu corpo erótico tem 59 anos. Seu talento faz chorar mas também faz rir, e mulher que faz rir, diz a mito, não sabe seduzir. Fernanda varre o mundo com sua arte, com sua perceptibilidade e com a força de um tipo de sedução que talvez unicamente as mulheres maduras possam saber. Fernanda faz uso de seu corpo, de seu erotismo, de sua autoestima para transfixar frestas no teatro limitante do regime da diferença sexual. É um gesto e tanto a cruzada de perna dela. É uma ação feminista. É um movimento que Fernanda Torres coloca em circulação. Uma vez que não se gostar por ele?





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