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Faltam novos sonhos ao PT – 05/03/2025 – Maria Hermínia Tavares

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Ao se despedir da vida pública em 2024, o octagenário Ricardo Lagos, político socialista que presidiu o Chile entre 2000 e 2006, conclamou seus conterrâneos a perseguir novos sonhos. Àquela profundidade, já se desfizera a Concertação de Partidos pela Democracia, frente que liderara a consolidação do sistema representativo, depois de 17 anos de ditadura, e alçara Lagos ao La Moneda. Da mesma forma, seu PPD (Partido pela Democracia), que desempenhara papel precípuo na transição, caminhava para a irrelevância.

Mais de uma vez, com visível fatalismo, ele explicou a mudança política que o atingia —e aos seus companheiros— porquê o resultado proveniente da vida política democrática: conquistas sociais geravam novas demandas —”novos sonhos”, dizia— que as lideranças estabelecidas, por progressistas que fossem, nem sempre conseguiam discernir ou encarnar.

A reparo de Lagos ajuda a enquadrar os problemas atuais do PT e do seu governo. Na sarau dos 45 anos do partido do presidente Lula, as comemorações do pretérito prevaleceram sobre as propostas para o horizonte. Só mais do mesmo no recente rearranjo ministerial, na página PT – Partido dos Trabalhadores no Youtube, e nas postagens no perfil Lulaoficial, que registra a agenda do presidente no Instagram, agora sob a governo do ministro Sidônio Palmeira. Também os intelectuais do partido, outrora importantes no debate público, parecem recolhidos ao conforto de suas bolhas, onde o entrechoque de ideias —de onde nasce o novo— é mercadoria e escassa.

Despertados pelo choque das pesquisas que captam os humores dos brasileiros, o patrão de governo e os líderes de sua legenda enfim reconheceram que a sociedade mudou e que é preciso dar respostas inovadoras a suas demandas. Não basta que as forças ora no poder cumpram o compromisso de reparar os danos infligidos ao país durante a destrutiva passagem da extrema direita pelo Planalto.

Até agora, porém, as propostas, além de raras, parecem insuficientes para dar rumo simples ao governo. Tudo indica que a sua principal aposta é ocupar os cidadãos-eleitores pelo bolso, com benefícios econômicos —cuja viabilidade fiscal falta fundamentar—, porquê a expansão do crédito consignado aos trabalhadores do setor privado e a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5.000. Se acompanhada de medidas que redistribuam de forma mais justa os tributos sobre os ganhos, a segunda medida representaria inegável progresso.

Mas ficam de fora outros desafios também importantes para dar laia política definida ao compromisso dos progressistas com a justiça, neste novo século. Enfrentá-los requer mourejar com a questão —zero trivial— da eficiência do Estado no provimento de saúde, ensino e segurança para os cidadãos; em encontrar regras que protejam os que trabalham, levando em conta a volubilidade das situações de tarefa; e, por último, mas não menos importante, mostrar porquê a garantia das franquias básicas —a estrear da liberdade de sentença— e o saudação às regras da democracia condicionam tudo mais.

Se a esquerda só tiver um belo pretérito pela frente, em lugar de sonhos, o país mais uma vez viverá o pesadelo da volta ao governo da direita tacanha e primitiva.


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