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Esta poste não é sobre ‘Juventude’, mas é – 26/03/2025 – Sérgio Rodrigues

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Nascente não é um texto sobre “Adolescência“. Mesmo assim, é escrito sob o impacto da minissérie da Netflix e compartilha com ela o mesmo mundo –esse que vemos da janela.

Um mundo em que, quando computadores viraram itens pessoais banais, plaquetinhas de bolso, 15 anos detrás, decidimos franqueá-los às crianças desde cedo –uma vez que já fazíamos com os modelos de mesa e de pescoço.

A teoria de fazer o que fizemos, se apresentada a uma pessoa generalidade do século pretérito, pareceria assustadora. Porquê assim, nossos filhos serão expostos desde pequenos a todo o lixo de pornografia e violação que a humanidade conseguir produzir?

Porquê faremos para dormir tranquilos enquanto, no quarto ao lado, nossas filhas de 7 anos podem estar conversando com um pedófilo de 55 que se passa por muchacho?

Será que não convém refletir melhor, pessoal? Já pensou se alguns dos nossos meninos mais brilhantes, doutrinados com discursos toscos de masculinidade por extremistas de direita, viram terroristas?

Perdão, diria aquela pessoa do pretérito, mas acho que estar, enquanto crescem, ao alcance do julgamento inopino de todos os conhecidos –e de infinitos desconhecidos– talvez deixe nossos filhos ansiosos, deprimidos, bulímicos, quem sabe propensos ao suicídio.

Bom –poderíamos responder à pessoa que um dia fomos–, você só disse verdades, mas não é uma vez que se cada um de nós tivesse muita margem de manobra na ocasião. Ou será que tínhamos?

As gerações que ficaram adultas antes de 2010, quando o smartphone passou a motoniveladora na Terreno, talvez não tenham resguardo. De todo modo, podemos alegar que o lado podre do negócio não era tão óbvio de saída.

Já o lado bom, opa! Além de prático, era jocoso demais. Tão bom poder fugir das obrigações de família, trabalho e tudo o que importa na vida, não? Que delícia trocar tudo isso por um dedo que corre na tela, um par de olhos estatelados.

Quem poderia imaginar que o encontro daquele tablete mágico, computador de mão, com as redes antissociais provocaria uma reação em calabouço que ia varrer o planeta, redesenhando relações pessoais, profissionais, comerciais –o tecido social inteiro?

Naquela reação em calabouço, gente que devia estar na calabouço viu a oportunidade de arquitetar uma engenhosa prisão. Uma gaiola comportamental regida por algoritmos que premiam emoções extremas –o sim integral e o não inegociável, o paixão ao igual e o ódio ao dissemelhante. O tribalismo e o linchamento.

Não fazem isso por perversidade, sadismo –embora muita malícia seja produzida nos processos que deflagra. Fazem por pragmatismo, porque essa é a forma mais garantida de ter nossa atenção.

Eis a mercadoria à venda nesse mercado desde o início, finalmente: atenção –a sua, a nossa. No atacado, aos milhões, grandes empresas pagam fortunas por ela. Vai manifestar que a felicidade dos seus filhos vale mais do que isso?

Nunca fomos bons em impor limites éticos à tecnologia, esse orgulho humano dileto. Dessa vez, porém, nossa incapacidade de controlar o gênio que libertamos da garrafa dá pinta de que pode custar mais custoso do que não custou.


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