A rede social em que mais se conversa sobre televisão sempre foi o Twitter, agora chamado de X. É um espaço em que as pessoas trocam ideias, nem sempre de forma civilizada, sobre novelas, programas de auditório e reality shows.
Entre os tipos curiosos que conheci no Twitter, ainda nos primórdios, estão os fãs de canais de televisão. São pessoas que, independentemente do programa que está sendo exibido, defendem um determinado ducto.
Fui apresentado inicialmente aos sbtistas, uma turma que apoia o ducto criado por Silvio Santos mesmo nas situações mais indefensáveis. Com o tempo, travei contato também com os fãs da Record, os fãs da Globo e, mais recentemente, com os adoradores de algumas plataformas de streaming.
Em tese, esses fãs de canais agem assim por paixão, mas não dá para saber se recebem qualquer tipo de incentivo. Uma vez que em toda rede social, o X é repleto de figuras protegidas pelo anonimato, escondidas detrás de apelidos e avatares falsos.
Um outro tipo muito curioso que aparece nas conversas sobre televisão é a “tia do sofá”. Há dezenas de perfis batizados com variações desse termo, mas a tia do sofá, na verdade, é uma entidade mal-assombrada.
A tia do sofá é um termo criado para nomear espectadores supostamente mais conservadores. Se não estou iludido, a tia do sofá nasceu durante alguma edição do Big Brother Brasil, uma vez que uma maneira de explicar por que um determinado participante muito polêmico foi eliminado do reality show.
Muita gente assiste ao BBB torcendo pelos piores participantes, os que causam mais confusão e provocam mais constrangimentos. A tia do sofá não. Ela torce pelos melhores participantes.
A tia do sofá, obviamente, não assiste televisão com os olhos na rede social. Ela não tem smartphone nem perfil no X. Ela não sabe que é odiada nem que é responsabilizada por tanta coisa de ruim que acontece na TV.
A geração, espalhamento e presença, até hoje, da tia do sofá nas conversas no Twitter reflete a existência de uma turma mais liberal e ousada, que assiste televisão com outros olhos. Em muitas das menções a essa entidade vejo um sentimento que mistura superioridade e frustração, uma vez que se estivessem dizendo: “Nós somos a vanguarda, mas ela é que decide o que vemos”.
A exibição de “Beleza Fatal” na plataforma Max foi um momento de salvamento para alguns inimigos da tia do sofá. Despudorada, com uma vilã à voga antiga, muito exagerada, várias cenas de sexo, inclusive entre homens, a novela de Raphael Montes fez grande sucesso em certos nichos do Twitter.
Uma vez que a Max não divulga dados de audiência, infelizmente, é impossível saber o real alcance da romance. Acredito que as tias do sofá não sejam frequentadoras assíduas das plataformas de streaming. Aparentemente, elas ainda preferem a TV oportunidade.
Isso talvez explique por que “Formosura Inevitável” não está tendo uma boa audiência em sua exibição na Band. Exibida no horário superior da emissora, às 20h30, a romance vem obtendo médias inferiores a 2 pontos no Ibope em São Paulo (cada ponto equivale a 199.313 indivíduos).
Também se culpa a tia do sofá pela timidez com que a Globo vem tratando tramas com personagens LGBT em suas novelas. No caso mais recente, em “Pequena do Momento”, romance das 18h, em seguida um rápido selinho em uma cena, dois jovens personagens foram separados.
Não sem razão, há grande expectativa no Twitter sobre a estreia do remake de “Vale Tudo”, sobre uma vez que Manuela Dias vai mourejar com esse cabo de guerra entre o público mais liberal e o mais conservador.
Gilberto Braga nunca deu globo para as tias do sofá, mas eram outros tempos.