Um jovem influencer, Mykhailo Viktorovych Polyakov —apesar do nome, americano—, foi preso há dias em Port Blair, arquipélago a 1,3 km a leste da Índia. Burlando todas as proibições, ele penetrara na ilhota de Sentinel, território indiano na baía de Bengala. Queria se discursar com os sentinelenses, uma comunidade nativa protegida por isolamento, sem contato com brancos ou com qualquer um de fora. Mykhailo chegou lá num bote inflável e, com sua câmera GoPro, meteu-se pela mata à procura deles. Uma vez que não viu ninguém, voltou desapontado para o bote, deixando na praia, porquê souvenir, uma garrafa de Coca-Cola Diet.
A lei do país prevê uma pena de cinco anos para isso, e com razão. Tribos isoladas são muito vulneráveis ao contato com estranhos. O esternutação de um dito urbano contamina um cidadão lugar, estende-se à família dele, aos amigos e vizinhos, e, de repente, toda a comunidade pode tombar morta. Um sarampo, portanto, extermina a tribo inteira. Os sentinelenses, sabendo disto, não são muito sociáveis –às vezes recebem os intrusos a flechadas e jogam os corpos no mar. De vez em quando, um pregador vai para o firmamento mais cedo. Daí o rigor das autoridades. Elas não querem que ninguém se machuque, menos ainda os indígenas –os brancos são de mais fácil reposição.
O agravante para o violação de Mykhailo foi a Coca-Cola deixada para trás, mesmo Diet. Impossível calcular o estrago provocado pela introdução dessa bebida em qualquer burgo, mesmo nos de razoável estágio de cultura. Ao término da 2ª Guerra, quando os americanos impuseram a Coca-Cola aos derrotados japoneses, o linguista S.I. Hayakawa declarou: “Que vingança terrível por Pearl Harbor!”.
No Brasil, que conheceu a Coca-Cola em 1942, ela logo mudou certos hábitos. Pela primeira vez, passamos a tomar refrigerante pelo gargalo, coisa que nunca se fizera com o guaraná.
E, contrariando a etiqueta, o eructação em público —pelo gás da Coca-Cola, a que as pessoas não estavam habituadas— passou a ser aceito em sociedade.