Esporte
entre o recta e o improviso

A vocábulo acessibilidade parece formosa nos discursos e nas propagandas oficiais. Mas quando a gente desce do asfalto das avenidas centrais e entra nas vielas da quebrada, ela perde o clarão. A verdade das periferias e favelas, é que o entrada, no sentido mais obrigatório da vocábulo, ainda é um repto quotidiano.
Tem viela que não passa cadeira de rodas, escadão onde deveria ter rampa, morro onde o ônibus nem sonha em subir, tem ponto de ônibus sem abrigo, e quando chove (porque chove na favela também), o passageiro se molha, o idoso escorrega e a mãe com menino no pescoço improvisa com o que dá.
Os relevos das periferias são os primeiros obstáculos, favelas nascem onde a cidade solene não quer crescer, portanto ocupamos o que sobra: morro, extremidade de riacho, fundo de vale. Aí cresce a comunidade, cresce a potência, mas também crescem os problemas, e a acessibilidade, nesse caso, vem sempre por último (quando vem).