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É impossível boicotar Elon Musk – 19/02/2025 – Rodrigo Tavares

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Com as movimentações para a eleição presidencial de 2026 já começando, crescem os riscos de ingerência de Elon Musk no pleito. Um varão que financia o autoritarismo político, nega as alterações climáticas e apoia o desmantelamento do Estado de Recta e social precisa ser freado de todas as formas legais e comportamentais possíveis. Na internet, pipocam guias de boas práticas para boicotar as suas empresas.

Mas Elon Musk está entranhado em nós. O combate ao tráfico de drogas e mineração ilícito, o monitoramento de desastres naturais ou o agronegócio brasílio são apoiados por satélites nacionais lançados ao espaço pela SpaceX de Musk. Comunidades indígenas no Pará, Amazonas e Roraima dependem da internet da Starlink para se conectarem com o mundo.

Ainda assim, se Musk é uma espécie de vírus do herpes que se aproveita da baixa isenção do organização, tem de ser provável infligir um medicamento antiviral. O boicote é uma decisão moralmente legítima. O nosso carruagem não precisa ser um Tesla. Porém, em nome da moral, também não pode ser um Audi porque a empresa se beneficiou de trabalho forçado do campo de concentração de Leitmeritz durante a Segunda Guerra Mundial e foi considerada “moralmente responsável” pela morte de pelo menos 4500 pessoas.

A Ford seria uma selecção. Apesar de Henry Ford ter disseminado propaganda antijudaica através de artigos no seu jornal —contribuindo para o antissemitismo global, inclusive na Alemanha, por quase um século—, a Ford não produziu material bélico para os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, como fez a Daimler-Benz, fabricante da Mercedes-Benz.

Pretérito é pretérito, diriam uns. Mas presente é presente, digo eu. Em uma recente avaliação da Anistia Internacional sobre a proteção dos direitos humanos nas cadeias de produção das montadoras, a BYD, principal concorrente da Tesla, recebeu a menor pontuação entre as empresas analisadas. A companhia atingiu unicamente 11 pontos de um totalidade de 90.

Nenhum resultado pode compreender o mais cimo patamar de “eudaimonia” aristotélica, um noção apresentado em “Moral a Nicômaco”, representando a vantagem moral e a prática da virtude. Se analisarmos a forma uma vez que um resultado é produzido, empacotado, transportado, vendido e consumido, atendendo à sua masmorra de valores e à governança e histórico da empresa, iremos sempre encontrar custos sociais, danos ambientais e decisões corporativas torpes.

Para escrever este artigo neste computador, jovens podem ter sido explorados em minas de estanho, tântalo e tungstênio na República Democrática do Congo. Foi necessário sugar petróleo das profundezas da Terreno para produzir as suas teclas de plástico. O data center onde irei arquivá-lo irá contribuir para a dilatação das emissões de carbono e o abrasamento do planeta. E a vontade que estou consumindo cá em morada, em Portugal, foi vendida pelos governos da Argélia e da Nigéria, conhecidos por torturarem opositores políticos.

Por isso, plataformas de dados uma vez que a finlandesa Upright já não avaliam as empresas pelas suas características ESG, mas por uma média aritmética entre os benefícios e os custos gerados. Sim, porque todas as empresas geram danos socioambientais. Elon Musk não é boicotável porque está em todos os lados; se tornou um arquétipo das predisposições inatas de indivíduos e empresas para o narcisismo, cada vez mais partilhadas sem constrangimento.

E é quando chegamos cá, exatamente cá, que a nossa moral é testada. A impossibilidade de um ditadura moral poderia legitimar a desumanidade; a naturalização da incoerência poderia justificar a preterição e a conivência com a injustiça.

Mas é neste clima de temor e instabilidade coletiva, de suspicácia nas instituições democráticas e de modorra social que podemos mostrar discrição. Conscientes das nossas ações contraditórias é provável continuar acreditando na humanização do outro e nos fundamentos da cultura.

A aparente arbitrariedade pode ser combatida com estável vigilância e autocrítica. Hoje começarei a usar a Bluesky, a rede social selecção ao X, gerida por uma ONG. Não salvarei nenhum trabalhador mineiro na África nem emitirei menos quilos de carbono. Mas não me conformarei.


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