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‘Dona de Mim’ aposta em testemunha infantilizado – 28/04/2025 – Thiago Stivaletti

São Paulo
Foi com alguns buracos na trama e numa atmosfera infantil para além da moça órfã Sofia que estreou “Dona de Mim“, quarta novela das sete de Rosane Svartman (“Totalmente Demais”, “Vai na Fé”). Estão lá as marcas registradas da autora –a protagonista negra, as mulheres empoderadas, a vida simples do subúrbio, a presença da igreja–, mas a largada soou um tanto mais capenga do que a das histórias anteriores.
O tal pacto entre Abel (Tony Ramos) e Ellen (Camila Pitanga) soou bastante contraditório: em troca de ter salvado a vida dele um belo dia muitos anos detrás, ela ressurge à extremidade da morte para pedir que ele acolha sua filha recém-nascida na família, mentindo ser o verdadeiro pai para sua própria prometida.
Sustentando esse contraditório, algumas perguntas sem resposta: qual é a doença irremissível que acomete Ellen? Por que Abel tentou se matar? Uma vez que ele e a prometida Felipa (Claudia Abreu), vinte anos mais novidade, se conheceram? Por que ele precisa mentir para Felipa sobre a moça, botando o himeneu em risco?
Seis anos depois, a moça Sofia é a capeta da família, aprontando “pegadinhas” pela mansão porquê esconder um sapo debaixo do lençol para espantar as candidatas a babá. Esqueça qualquer sofreguidão de trama adulta: estamos em um daqueles filmes mais básicos da Sessão da Tarde, ou numa romance infantil do SBT estilo “Carinha de Querubim”.
Para além da garotinha, a infantilidade se espalha – da orifício hiperpoluída com vários personagens dançando felizes, ao estilo BBB, à reação de Felipa à chegada de Ellen em pleno himeneu, chorando porquê se estivesse em seu primeiro romance. Também não soou verossímil a protagonista Leona, ou Leo (Clara Moneke) grudar o salto quebrado com chiclete para ir dançar forró.
Leo já mostrou ter uma grande dor do pretérito –perdeu o bebê que teria com o ex-namorado, o lutador bonitão Marlon (Humberto Morais)– e vive com as amigas inseparáveis, Kamila (Giovanna Lancellotti), mãe solo, e Pam (Haoné Thinar), que perdeu uma perna na puerícia e servirá para a autora discutir o capacitismo. Uma vez que as chamadas já mostraram, Leo irá trabalhar na mansão de Abel, se encantar por Sofia e mexer com o coração dos irmãos Samuel (Juan Paiva) e Davi (Rafael Vitti).
Uma vez que sempre, podemos recontar com o talento do elenco para levantar a globo de vários personagens. Revelada em “Vai na Fé”, Moneke é hoje uma das grandes promessas da Globo, e segurará muito a novidade romance se tiver um texto à profundeza, explorando o seu lado cômico porquê na romance anterior e fugindo da mocinha muito romântica.
Irmãos opostos, o certinho Samuel e o bon vivant Davi ainda não apareceram pra valer, mas podem render tecido pra manga, apesar de serem estereótipos mais do que familiares para os seus intérpretes. Já o vilão Jaques de Marcello Novaes parece estar muito aquém do tóxico Theo de “Vai na Fé”.
Ainda é cedo para expor, mas o primeiro capítulo mostrou muito menos sofreguidão do que a trama anterior de Svartman. Não que isso vá se transcrever em números frustrantes de audiência necessariamente. Mas é triste perceber que o horário das sete vai se infantilizando e acostumando o público de romance a um resultado cada vez mais simplório.
“Dona de Mim”
De segunda a sábado às 19h30 na Mundo