O fortalecimento do sistema democrático implica necessariamente na representação e na resguardo dos interesses do povo. Com base nessa premissa, a peroração de que democracia e racismo são sistemas incompatíveis deveria ser, além de óbvia, indiscutível. No entanto, isso ainda não ocorreu.
Nos últimos dias, vários acontecimentos fizeram lembrar do livro “Significado do Protesto Preto” (1989), no qual o sociólogo e ex-deputado federalista Florestan Fernandes (morto em 1995) afirma que “a democracia só será uma verdade quando houver, de trajo, paridade racial no Brasil”.
Há, inclusive, uma solução proposta pelo nosso país e aprovada por unanimidade pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU no sentido de formalizar a incompatibilidade “do racismo com a democracia, o Estado de Recta e a governança transparente e confiável”.
Todavia, a perpetuação das desigualdades étnico-raciais mantém a maioria da população brasileira em situação de pobreza há séculos, coisa que na atualidade fere diretamente os interesses de 56% (pelo IBGE).
Neste “natalício” do golpe militar de 1964 —marcado pela inédita transformação de um ex-presidente e de militares de subida patente em réus por tentativa de golpe de Estado— parece bastante oportuno e profíquo sobresair o impacto nocivo da ditadura sobre a vida dos negros deste país.
Durante os chamados “anos de chumbo”, movimentos sociais que defendiam a taxa racial foram fortemente reprimidos, silenciados e criminalizados. Com base no mito da democracia racial, qualquer ação denunciando o racismo institucionalizado era enquadrada uma vez que ato de subversão e incitação ao ódio.
Para o muito de todos, cresce a consciência de que a democracia deve ser defendida e fortalecida. Todavia, o aumento exponencial do exposição do ódio, da intolerância e da violência com motivação étnico-racial preocupa cada vez mais. Finalmente de contas, democracia e racismo são incompatíveis.