“Todo indígena nasce ativista”, diz a influenciadora We’e’ena Tikuna. “Desde gaiato somos ensinados a cuidar da floresta. Se você come uma fruta, deve plantar sua semente.” Por isso vê tanta prestígio na COP30, que acontece em novembro em Belém (PA). “Precisamos que vejam que quem cuida da floresta: são os povos originários, ribeirinhos e caboclos que moram nela. Ninguém conhece o nosso território. Brigamos por sobrevivência e saudação a nossos corpos. Para nós, a terreno é sagrada”, diz.
Com murado de 730 mil seguidores no TikTok, We’e’na é hoje uma das maiores influenciadoras indígenas do Brasil. Para ela, que compõe a lista “Vozes Visionárias”, divulgada pela plataforma nesta terça (15), as redes sociais permitem denunciar abusos contra os povos originários e a natureza. “Por muito tempo, fomos tutelados. Até 1988, fomos vistos uma vez que animais”, diz.
Foi o ano em que We’e’ena nasceu, também marcado pelo massacre do Capacete, em que lideranças indígenas reunidas para discutir questões relacionadas às suas comunidades foram atacadas e mortas. Entre as vítimas do genocídio estavam crianças. O incidente foi determinante; com pavor, os pais de We’e’ena se organizaram para se mudar da povoado. “Fomos para Manaus quando eu tinha 12 anos. Meu pai, batizado de Américo, disse que precisávamos aprender o português para proteger a floresta e lutar pelos direitos indígenas.”
Assim uma vez que seus ascendentes e outros “parentes” (indígenas de todas as etnias, explica), o entrada à identidade era recusado desde a certidão. Comumente, funcionários do cartório nomeavam as crianças, apagando suas identidades. “No meu documento sou Paula Araújo Peres. Quem é Paula?”, diz We’e’ena, que significa “a onça que zero para o outro lado do rio”. Assim uma vez que seus irmãos, seu nome indica o clã de onça, ao qual pertence, herdado do pai, e que limite as relações na povoado.
Por isso, quando sua filha nasceu, fruto da união com o espanhol Antón Carballo Gonzales, fez questão de manter a tradição e a registrou com o nome tikuna: Í’etünã, “os olhos pequenos da arara”. Foi pensando em crianças uma vez que ela, que, durante a pandemia, a artista decidiu fabricar brinquedos artesanais com grafismos de seu povo. “Eu não esperava que adultos agarrassem as bonecas e falassem ‘nunca tive uma’. Quando vim para a cidade, não me sentia representada”, diz. Para ela, o brinquedo é educativo —tanto que recebe muitos pedidos de escolas.
Não é de hoje que ela se dedica à manutenção da cultura tikuna: a artista trabalha com tendência há mais de uma dez, desenvolvendo peças estampadas com grafismos em algodão e tururi, a filamento proveniente da palmeira ubuçu, utilizada por seu povo na confecção de tecidos. Sem a possibilidade de se pintar com urucum e jenipapo no dia a dia da cidade, ela passou a fabricar roupas uma vez que forma de levar consigo sua núcleo. Logo surgiram encomendas, desfiles, e a marca que leva seu nome.
Suas peças são uma das formas que encontra para seguir no ativismo. “A política está presa com outros políticos, enquanto nós lutamos pela vida. Por isso temos uma mobilização indígena, o Acampamento Terra Livre, há 21 anos. Mas é tudo muito recente, a Funai tem menos de 60 anos.”
A reportagem viajou a Alter do Soalho a invitação do TikTok.