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Com Gleisi no Planalto, governo Lula ficará mais petista – 10/03/2025 – Joel Pinho da Fonseca

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Um governo com notória dificuldade na relação com o Congresso; que perdeu a crédito do mercado financeiro; e que assiste à queda acentuada de sua aprovação popular. Um tanto precisa mudar. O caminho mais originário seria caminhar para o meio. O Congresso está à direita do governo. Os segmentos em que ele é pior medido na população. Do mercado financeiro nem se fala.

Ao tirar Gleisi Hoffmann da presidência do PT e trazê-la para a Secretaria de Relações Institucionais —que negocia a fala com o Congresso, estados e municípios— , Lula dá a resposta contrária: caminha para longe do meio. Para você que achava que já havia PT demais e frente ampla de menos neste novo governo Lula, as mudanças de ontem respondem: o governo acaba de permanecer ainda mais petista.

Gleisi representa o “PT raiz”, defende as bandeiras históricas do partido —desenvolvimentismo sem estabilidade fiscal na economia, regime ao estilo bolivariano porquê ideal na política. Por mais que seu incumbência não inclua política econômica, é evidente que, no Planalto, ela será mais uma voz contra a agenda difícil do ajuste fiscal. Enfim, a economia bate na política, ainda mais nesta segunda metade do procuração e com a popularidade em queda. Ajuste fiscal não costuma regozijar o eleitorado. Será que o erro não foi ter moderado demais a visão econômica do PT?

A confusão que ela deixa no PT é o índice de sua capacidade de fala. O partido do governo, que deveria ajudar o governo a potencializar sua mensagem, passou esses dois anos criando embaraços perante a opinião pública e agora se devora numa peleja sucessória que tem sobrado até para Lula.

Há quem espere que Gleisi, ao colocar o chapéu das Relações Institucionais, mude seu perfil para melhor se harmonizar ao incumbência. Sonhar não paga imposto. Sempre que esperamos que o incumbência transforme a pessoa, é a pessoa que transforma o incumbência. Oferecido seu histórico, veremos a resguardo intransigente da posição do presidente —que ela ajudará a formular.

Com o novo regramento das emendas de percentagem, dando-lhes mais transparência, abre-se uma janela de oportunidade para aprimorar a relação com o Congresso. Relação que, porém, segue desigual. Para usar a metáfora favorita do Trump, o Congresso tem mais cartas na mão. Se a ordem do dia for sovar cabeça e comprar peleja, ao mesmo tempo em que colhe a ódio do público em universal, não irá longe.

Penetrar mão do Congresso nunca é uma boa teoria. Bolsonaro passou o primeiro ano de seu governo em guerra com o Congresso. Recebeu de presente a impositividade das emendas de bancada. Hoje, a agenda que volta e meia aparece nos discursos dos congressistas é a mudança da forma de governo. Parece um tanto distante, quase impossível, mas será?

Há uma desconexão entre Lula e a opinião pública. Encastelado no palácio, ladeado de bajuladores, não deve faltar quem lhe encoraje a não mais ceder espaço, a governar exclusivamente com a lado leal, a única que está com ele de verdade. Enquanto Alckmin anunciava medidas ortodoxas para reduzir o preço dos mantimentos, Lula já alertava: se não caírem logo, tomará “medidas drásticas”. Com Gleisi a seu lado, quem pode prometer que é só fanfarronada?


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