“Uma Breve História da Perceptibilidade”, de Max Bennett, é um livro inventivo. Por que já criamos algoritmos que derrotam com facilidade campeões mundiais de xadrez e de go, mas ainda não conseguimos desenvolver uma perceptibilidade capaz de pôr a louça suja na lavadora, tarefa que uma párvulo de seis anos desempenha sem dificuldades?
Se há uma coisa que nós ainda não entendemos recta é o que é a inteligência. E não a entendemos porque não sabemos exatamente porquê nossos cérebros funcionam. A proposta de Bennett neste livro é fazer uma engenharia reversa da perceptibilidade biológica para extrair ideias que podem nos levar a melhorar a inteligência de máquinas. O responsável, que não é neurocientista nem especialista em robótica, mas sim um empresário do ramo da computação com muita disposição para pesquisar, começa quatro bilhões de anos detrás, quando surgiu a vida na Terra, e elege cinco marcos na evolução da perceptibilidade para investigá-los mais a fundo.
O primeiro é o chegada da simetria bilateral em organismos pluricelulares e, portanto, do movimento dirigido. É aí que surgem os primeiros cérebros. Servem para sentenciar para onde o bicho deve se movimentar (comida) e do que deve afastar-se (perigos). É a esse progresso que remonta, se quisermos, a invenção do muito e do mal.
Curiosamente, um dos primeiros robôs a fazer sucesso mercantil, o aspirador de pó autônomo Roomba, funcionava com uma programação muito parecida. Ele mudava de direção quando batia num tropeço e voltava para sua natividade de alimento (a tomada) quando a bateria descarregava. Só com isso, conseguia limpar a mansão.
Outros momentos capitais da história da perceptibilidade incluem o chegada do sistema dopaminérgico nos vertebrados, que trouxe a possibilidade de estágio condicionado, e da linguagem humana, que nos permitiu dividir e apinhar conhecimento a ponto de fabricar a inteligência artificial (IA). O livro é muito escrito e oferece ótimos insights não só sobre a natureza das máquinas porquê também sobre a do varão.