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Esporte

Bolsa americana: o pior já passou? – 02/05/2025 – De Grão em Grão

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Imagine entrar em um carruagem para uma longa viagem e perceber que o motorista muda de direção sem avisar, freia bruscamente e acelera de forma imprevisível. Você segura firme, tenta manter a calma, mas o desconforto é inevitável. Assim tem sido o trajeto da economia americana sob a direção de Donald Trump.

Os primeiros 100 dias de um governo não definem um governo, mas dão sua direção. E a direção que Trump adotou é clara: subida volatilidade. Um vai e vem estável em decisões importantes, comunicados atropelados e carência de dados confiáveis. Isso desorganiza quem investe, trava quem produz e preocupa quem consome.

O mercado sente. Em abril, o S&P 500 caiu logo aquém dos 5.000 pontos no início do mês e, desde portanto, já se recuperou mais de 14%. Uma reação impressionante — mas será duradoura? Uma vez que um renomado gestor observou recentemente, Trump conseguiu a audácia de estopar os otimistas e os pessimistas dentro do mesmo mês. Quem encerrou as posições, levou o vulgarmente chamado no mercado de “violino”. Caiu e voltou. Tudo começou no “Liberation Day”.

O “Liberation Day” proclamado por Donald Trump ocorreu em 2 de abril de 2025. Nesse dia, o presidente anunciou, em um exposição no Jardim das Rosas da Lar Branca, a imposição de tarifas generalizadas sobre importações, denominando a data uma vez que “Liberation Day.

Naquele dia, o principal índice da Bolsa americana era negociado ao mesmo patamar de hoje. Quem não olhou para o desempenho do mercado ao longo do mês talvez não entenda o tamanho do sofrimento dos investidores. Mas por que voltou?

O otimismo recente foi puxado principalmente por resultados positivos no setor de tecnologia, mas ainda sem confirmação de um movimento estrutural. Aliás, os adiamentos e voltas detrás em decisões do próprio governo, além da expectativa de uma verosímil negociação com a China ajudaram a renovar os animos.

Mas é importante lembrar: início de negociação não significa solução. Exemplos recentes comprovam isso. Israel e Hamas estão em negociação há meses. Rússia e Ucrânia também mantêm conversas. E nenhuma dessas tratativas trouxe soluções efetivas até cá. Quando os lados já fincaram posição, uma vez que no caso de EUA e China, as concessões costumam ser escassas — o impasse, o mais provável.

Já nem se fala mais do caso europeu, mas as tarifas contra a Europa têm até data para voltar a valer. E se tudo foi moca ou fanfarronada, o que esperar das próximas decisões?

O investidor precisa ter desvelo para não confundir o refrigério recente de preços com uma mudança definitiva de tendência. Se é que há uma tendência clara neste momento.

Estamos longe de enxergar os reflexos práticos do que ocorreu. O impacto de aumentos de preços e incertezas comerciais sobre a inflação e o consumo ainda deve brotar nos próximos meses. Além do revérbero no desenvolvimento econômico global. Muitos consumidores e empresas americanos anteciparam compras no primeiro trimestre com receio de aumentos nos preços. Portanto, os resultados do primeiro trimestre foram inflados.

Sim, há setores que continuam mostrando força — mormente tecnologia e consumo doméstico. Mas o mercado precisa de mais do que fôlego pontual em nichos resilientes: precisa de direção clara, previsibilidade e crédito. E nenhuma dessas palavras parece combinar com o estilo Trump.

Não seria a primeira vez que o mercado sobe poderoso exclusivamente para desabar ainda mais depois. Foi assim em 2008, durante a crise financeira global, quando o S&P 500 subiu mais de 15% em outubro, antes de despencar novamente e atingir seu fundo em março de 2009. O mesmo aconteceu durante a bolha da internet em 2001 e até na crise do petróleo dos anos 70: alívios temporários costumam preceder quedas ainda maiores.

Não estou dizendo que você deve vender suas posições, mas deve aproveitar a recuperação de preços e revisitar o alinhamento de sua exposição com seu perfil de risco. Enaltecer exposição neste momento parece extremamente perigoso, principalmente, quando se tem taxas de juros tão elevadas uma vez que as nossas no Brasil.

Portanto, embora a recente subida da Bolsa americana seja um refrigério momentâneo, ainda não é hora de declarar o término da tempestade. Quando o motorista insiste em guiar sem planta e sem freios, o melhor a fazer é manter o cinto apertado.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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