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As defesas são retaguarda do golpe, ou golpe é ‘ultima ratio’ das defesas?

É material superada no STF, e isto precede essa denúncia, a razão por que o mesada do interrogatório do golpe — e de outros correlatos — é o Supremo. Da mesma sorte, não procede, segundo as regas do jogo, o questionamento sobre se o processo deve ser submetido à Primeira Turma ou ao pleno. Já se tentou o impedimento de Alexandre de Moraes, de Flávio Dino e de Cristiano Zanin, com alegações que não encontram abrigo na letra da lei. Há as artimanhas com alguma sofisticação — finalmente, a resguardo tem de fazer o seu trabalho —, e há as grosseiras, uma vez que as que listam Moraes e Dino entre as testemunhas… Adiciona-se a isso o esforço para anular a delação de Mauro Cid, sob a argumento de que ou teria havido filtração, praticada justamente pelo ministro-relator, arguição que chega a ser bizarra, ou de que leste teria se comportado uma vez que instrutor do processo ao comunicar o tenente-coronel para o risco de perder benefícios do negócio de colaboração se não cumprisse o responsabilidade de expor a verdade.
Duvido que os advogados — que podem fazer o seu trabalho porque a democracia venceu o golpe — acreditem que terão seus respectivos pleitos atendidos. “Logo fazem o que fazem para quê?” Muito, quanto mais se recobre o processo com o glacê retórico de falsas ilegalidades e de inexistentes agressões ao devido processo legítimo, mais se mobilizam os espíritos para a guerra. Bolsonaro já marcou duas manifestações que, sob o véu do “Fora Lula 2026” — sem prejuízo de realmente querê-lo —, buscam, de indumento, intimidar o Supremo. Isso não é novo. O logo presidente da República comandou à intervalo o primeiro ato de rua contra o tribunal, no dia 26 de maio de 2023, antes que se concluísse o seu quinto mês de procuração. Uma vez que se nota, o ataque à Incisão está na pré e na pós-história do golpe.
Sim, viva o recta de resguardo em sua plenitude!, e ele está sendo treinado. Mas é imperativo que se constate o perplexidade incômodo entre o ofício de alguns causídicos e o invitação para que se “resolva” a coisa na marra, não na lei, que emana das redes e de alguns denunciados, principalmente de Bolsonaro.
Outra frente opera nos EUA por intermédio do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que se dedica, com impressionante virulência, a difamar o sistema judicial brasílio, o mesmo no qual os advogados, nesse e em outros casos, exercitam as suas habilidades. Na sua fúria, chegou a expor que “Ainda Estou Cá” é um filme sobre “uma ditadura inexistente”. Para ele, o verdadeiro regime de força é leste em que os defensores de seu pai e de outros denunciados atuam livremente. “Inexistente”, para o valente, era a tirania em que vigia o AI-5 e que matou, entre outros, Rubens Paiva. Bolsonaro, diga-se, quando deputado, cuspiu no busto de Paiva no Congresso. Era o tempo em que estampava na porta do seu gabinete um pôster em que se lia: “Desaparecidos do Araguaia – Quem gosta de osso é cachorro”. Alçado à Presidência pela democracia que sempre desprezou, tentou lhe dar um termo. E vai remunerar por isso.
O recta de resguardo é um dos pilares do regime que os golpistas tentaram destruir. Devemos protegê-lo não em favor dos criminosos, mas do conjunto da sociedade. E tenho de expor: ainda que os defensores acreditassem profundamente na sua tese, para que ela se distinguisse do trabalho de um taxidermista, que confere semblante de vida ao que está morto, falsificando essencialmente a verdade com a eloquência da plasticidade, seria preciso que tal tese não fosse aliada daqueles que vão para as ruas para intimidar o Supremo ou que, fora do Brasil, atacam as instituições democráticas.
Nesse caso, é preciso que se indague se a resguardo virou retaguarda do golpismo renitente ou se o golpismo renitente é a “ultima ratio” da resguardo.