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Arqueóloga mostra uma vez que teoria de ‘Oeste’ é um tanto recente – 24/03/2025 – Darwin e Deus

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Num momento em que tentar entender que diabos, enfim de contas, é esse tal “Oeste” ou “cultura ocidental”, um novo livro, assinado pela arqueóloga e historiadora britânica Naoíse Mac Sweeney, vem muitíssimo muito a calhar. O resumo da ópera é um naco simples: quem aposta na teoria de que esses conceitos são muito antigos e foram claramente formulados desde os primórdios dessa cultura em universal não sabe do que está falando.

Esse é o principal fio condutor de “O Oeste: Uma Novidade História em Catorze Vidas” (editora Zahar, tradução de Denise Bottmann, 408 págs.), lançado recentemente no Brasil. Começando com o pai dos historiadores gregos, Heródoto (no século 5 a.C., portanto) e avançando paulatinamente até a Hong Kong do século 21, Mac Sweeney, professora do Departamento de Arqueologia Clássica da Universidade de Viena, mostra uma vez que o processo gradualíssimo de construção de uma identidade cultural e geopolítica do Oeste se arrastou, na verdade, até o século 18.

Muito antes disso, os supostos fundadores do Oeste, os gregos e romanos, basicamente não davam grande esfera para a teoria, por mais que às vezes tentassem “polarizar” (uma vez que a gente infelizmente diz hoje) com seus adversários asiáticos.

O próprio Heródoto não demonizava o Predomínio Pérsico, apesar de ter narrado o confronto entre as cidades-Estado gregas e os Grandes Reis iranianos. Tanto ele uma vez que outros pensadores gregos não se viam exatamente uma vez que “europeus”, mas uma vez que uma gente posicionada no meio do caminho entre a Europa e a Ásia e, portanto, podendo usufruir do melhor de ambas as origens.

Já o Predomínio Romano, com possessões nos três continentes do Velho Mundo, gostavam de propagandear sua suposta origem troiana (ou seja, na Anatólia, atual Turquia), e essa prosápia a partir de Troia passou a ser usada tanto por imperadores germânicos quanto por ingleses ao longo da Idade Média.

Bizantinos, falantes do heleno, tampouco se viam uma vez que “ocidentais”, em grande secção por razão do cisma religioso que os separara dos católicos romanos da Europa mais a oeste. E, em pleno século 17, no termo do reinado da inglesa Elizabeth, a diplomacia dos turcos do Predomínio Turco voltava a usar a relação com os troianos para tentar armar uma improvável associação entre protestantismo inglês e islamismo contra os católicos espanhóis.

A viradela conceitual rumo a um Oeste mais monolítico, exclusivamente europeu e branco só acabaria se dando com o triunfo do colonialismo e, paradoxalmente, do Iluminismo. Foi só logo que Grécia e Roma foram artificialmente costuradas num único pretérito avoengo para os novos senhores do mundo.


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