O progressão da vaga antidiversidade e anti-inclusão (coisa que vem sendo mormente estimulada pelos EUA) começou a surtir efeitos negativos de grande impacto no Brasil. A edição 2025 do maior festival de cultura, economia criativa e empreendedorismo preto da América Latina, a Feira Preta, foi cancelada em São Paulo por falta de patrocínio.
O renome internacional e o sucesso da iniciativa, que em 2024 movimentou murado de R$ 14 milhões, não foram suficientes para prometer a mostra deste ano no parque Ibirapuera. Menos da metade (40%) dos recursos financeiros necessários para a realização do evento (previsto originalmente para os dias 3 e 4 de maio) foi captada.
“Muita gente perde com isso”, resumiu Adriana Barbosa, fundadora da Feira Preta. Ela tem toda razão e sabe muito do que está falando. Mulher preta, Adriana começou a empreender por urgência. E é justamente a urgência o que move 46% das pessoas negras que empreendem neste país (oferecido do Sebrae).
A muito da verdade, pretos e pardos se veem obrigados a “empreender” para sobreviver há séculos. Desde os tempos de colônia, os negros precisam “dar seus pulos”, ou seja, precisam se virar porquê podem no transacção ambulante ou em pequenos negócios (porquê quitandeiras, lavadeiras, alfaiates, engraxates, costureiras, sapateiros…)
O que espanta atualmente é a incompreensão —ou será que é desinteresse deliberado mesmo?— sobre o impacto do empreendedorismo preto na economia e na vida dos brasileiros. Mais de 15,6 milhões de pessoas pretas e pardas são donas de negócios no país. Isso representa 52,4% do totalidade de empreendedores.
Reduzir investimentos, dificultar entrada ao crédito, inviabilizar oportunidades de expor e vender produtos e serviços da enxovia do “afronegócio” são sinais de miopia econômica que favorece a manutenção das desigualdades étnico raciais. Mas não chega a surpreender numa sociedade racista e excludente que insiste em negar oportunidades à maioria do povo —que é negra no Brasil (56%/IBGE).