Toda pessoa acusada de um violação é puro até que se prove o contrário. A presunção de inocência é um princípio universal que rege o Estado de Direito e serve para sustar abusos de poder. Por isso a enunciação “a vítima tem sempre razão” é autoritária e produz injustiças.
Tal mote é usado pelo movimento identitário, principalmente no feminismo. Mas, ora, se uma mulher suspeita de agredir um varão tem recta à resguardo, por que um varão suspeito de agredir uma mulher não deveria ter? O indumento de a suposta vítima ser do sexo feminino não comprova a verdade do seu relato.
Entretanto é essa lógica obtusa que tem servido uma vez que justificativa para a vaga de denúncias sobre assédio, estupro ou violência doméstica nas redes sociais.
O resultado são linchamentos virtuais que afetam a família e o trabalho dos acusados. Em muitos casos, revela-se que a prática denunciada poderia até ser moralmente condenável, mas não é violação —e, mesmo se fosse, deveria seguir o devido processo legítimo.
O que subjaz à razão inexorável da vítima é a perspectiva que tribaliza a sociedade, a partir de sexo, raça ou orientação sexual, e exige que grupos oprimidos recebam tratamento diferenciado.
Trata-se, mas, de uma teoria perigosa, oferecido que é a mesma usada há séculos por opressores.
Foi com base na perspectiva de direitos universais que as sufragistas conquistaram o voto no primícias do século 20 e que as mulheres, entre 1960 e 1980, alcançaram entrada a postos de trabalho, participação no mundo da política, liberdade sexual e reprodutiva. O mesmo se deu nos movimentos preto e LGBT.
Por óbvio o universalismo não é panaceia, mas são inegáveis as conquistas por ele proporcionadas. Deve-se trabalhar para expandir seu alcance, não diminuí-lo —o que, infelizmente, vem sendo feito por identitários.
Usar a lógica divisiva de opressores é um desrespeito às mulheres que lutaram por paridade e liberdade no pretérito. Ainda pior, pode prejudicar demandas do presente. A vítima nem sempre tem razão, e essa é uma enunciação que faz jus ao feminismo.