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A ordem não é abolida no Carnaval, mas sim imposta no restante do ano – 01/03/2025 – Ricardo Araújo Pereira

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Se a cantora Rita Lee tinha razão —e, por princípio, ela tinha— quando disse que sexo é Carnaval, portanto a propriedade comutativa nos permite concluir que Carnaval é também sexo.

Talvez eu não saiba o que é a propriedade comutativa. Lembro-me de ter apanhado na escola por pretexto disso. Não me lembro, infelizmente, de ter aprendido. Mas me parece muito provável que, se x é igual a y, y também seja igual a x.

Toda esta conversa, curiosamente, tira a vontade de participar, quer em sexo, quer no Carnaval. Mas a nossa espécie parece concordar no seguinte: deve possuir um período no ano em que a gente exagera e se comporta de forma insensata.

Isso ajuda a suportar o resto do tempo, em que devemos agir com ponderação. Parece possuir um momento equivalente ao Carnaval em todos os tempos e lugares. É uma espécie de despedida de solteiro, antes de nos comprometermos com a Quaresma.

Mas talvez as coisas não sejam uma vez que eu as descrevi. É provável que o Carnaval não seja uma interrupção extravagante na normalidade, mas sim o contrário.

O resto do ano é que é um excesso de contenção para nos preparar para a normalidade do Carnaval. O Carnaval é selvagem —que é o que nós verdadeiramente somos.

Não é no Carnaval que a gente resolve suprimir a ordem, no resto do ano é que nós resolvemos impor a ordem. A desordem é que é normal.

Às vezes, o jornalista da televisão diz: interrompemos esta transmissão para uma notícia de última hora. O Carnaval é uma operação parecida.

É um modo de proferir: interrompemos esta vida para um pouco de vida levada a sério. Todo o mundo está convicto de que o Carnaval é galhofa. Não é. Carnaval é que é a vida levada a sério.

No resto do ano vivemos uma hilariante vida de galhofa, com fingimentos engraçadíssimos. “Porquê está, senhor doutor? O tempo tem estado pluviátil, infelizmente. Sim, senhor, sim, senhor.

Ah, a sua mãe tem estado adoentada? Por obséquio, conte-me mais sobre isso. Quando perguntei uma vez que estava não se tratava de uma pergunta retórica, tenho mesmo interesse em saber de que malária sofre a sua mãezinha. Gripe? Evidente. Tem chovido, uma vez que creio que já referi. O que mais me apetece é prolongar esta conversa. Descreva-me pormenorizadamente as expectorações dela.” Esse é o meu Carnaval.


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