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Rua Karl Marx, esquina com Olavo de Roble – 23/04/2025 – Anna Virginia Balloussier

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Alguma coisa acontece no meu coração que só quando cruza a rua Karl Marx e a rua Olavo de Carvalho. Um infarto ideológico, decerto.

A ziquizira geográfica que reúne dois galos de peleja nas guerras culturais, o responsável do “Manifesto Comunista” e o guru do bolsonarismo, consta em Doron, um bairro de Salvador. Nomeiam duas vias simplezinhas, espetadas por prédios de classe média baixa, segundo o Google Maps.

Não que o povo da região estivesse a par do batismo. Um colega do jornal baiano A Tarde confirmou com a prefeitura soteropolitana que essas ruas não possuem a tal da plaquinha azul para identificá-las, nem sequer têm registro no cadastro municipal.

O esbarrão entre Karl e Olavo está mais para uma peraltice virtual, já que o Google Maps é colaborativo, ou seja, permite sugestões de usuários em sua cartografia.

Há outras topadas urbanas curiosas oficializadas por aí.

A avenida Governador Jânio Quadros é paralela à rua Walt Disney e atravessa as ruas Pato Donald, Mikey (sic) e Minie (sic 2), em Ferraz de Vasconcelos (SP). Imagina logo morar no Jardim da Conquista, na zona leste paulistana, e proferir pro Uber “toca pra travessa Evidências”?

Não é negando as aparências nem disfarçando as evidências que as ruas Bartira e João Ramalho vão enganar seu coração. O nome delas vêm respectivamente da indígena filha do cacique Tibiriçá e do português João Ramalho, parelha à voga colonial, trançado uns 15 anos posteriormente “seu Cabral” inventar o Brasil, “dois meses depois do Carnaval”, uma vez que gracejou Lamartine Babo na marchinha “História do Brasil”.

Séculos depois, João e Bartira viraram paralelas destinadas a nunca se encontrar, em Perdizes, na zona oeste da capital paulista.

Ainda na capital de São Paulo, temos a rua Borboletas Psicodélicas desembocando na avenida Leonardo da Vinci.

O bairro Gabriela, na baiana Feira de Santana, faz cosplay de Projac com suas ruas batizadas em homenagem a novelas da Orbe: Rei do Rebanho, Avenida Brasil, Indomada e grande elenco.

O Rio de Janeiro traz uma rixa histórica que hoje soa até vintage: as avenidas Borges de Medeiros e Epitácio Pessoa, vizinhas na zona sul, remetem a velhos inimigos políticos. Epitácio foi presidente no primórdio do século 20. Já Medeiros era um entusiasta do castilhismo, movimento político que vai empolgar Getúlio Vargas e ajudar a parir a Revolução de 1930, que fez um strike na República Velha.

Também pelas bandas cariocas fica a rua México, no núcleo da cidade. Sua disposição geográfica não seria digna de nota não fosse estar colada ao consulado do país do qual novo presidente não quer ver por perto mexicanos nem pintados de ouro asteca.

Só periga vermos Donald (Trump mesmo, não o Pato de Ferraz de Vasconcelos) querer edificar um muro para isolar a via do prédio diplomático dos Estados Unidos.

Por via das dúvidas, melhor cancelar seu visto para o Brasil.


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