Centenas de comentários se ocuparam da cirurgia de Jair Bolsonaro e do Legislativo brasílio em seus conchavos sobre um projeto de anistia a “responsáveis por atos pretéritos e futuros relacionados aos ataques à sede dos três Poderes”. Todos assistem à paralisia de um Congresso que se mobiliza para resolver os problemas de peixes grandes com o pretexto de que não passam de pequenos lambaris.
Peço licença, porém, para falar de um caso que parece ter comovido menos gente, mas também aconteceu no Região Federalista. Sarah Raíssa, 8, morreu posteriormente ter inalado desodorante aerossol ao imitar um dos muitos desafios que, entra ano, sai ano, continuam a rodar as redes. Na notícia da Folha sobre sua morte, havia unicamente 12 comentários. O jornal também foi mal no seguimento do caso.
Sarah teria visto o vídeo nas redes sociais. Mesmo familiares e cuidadores que proíbem o aproximação a redes e vídeos não vasqueiro se surpreendem com o conhecimento dos filhos sobre o teor das plataformas digitais. Personagens, bordões e ideias inundam o mundo real e se espalham porquê pragas, indiferentes às limitações parentais. Tornam-se temas de recreios, festinhas e vans escolares, mesmo com a recente proibição do celular em sala de lição, do qual gatilho foi uma obra de apelo único, “A Geração Ansiosa“, do psicólogo Jonathan Haidt.
Publicado um ano detrás nos EUA, o estudo esmiuçou os danos do uso dos smartphones e das redes sociais por crianças e adolescentes e impôs a discussão aos grupos de zap dos pais, às escolas e ao poder público.
A pesquisa de Haidt mostra que casos porquê o de Sarah não são problemas unicamente individuais ou de permissividade familiar. Barrar o consumo desses vídeos depende de circunstâncias multifatoriais sobre as quais as famílias sozinhas têm pouco controle.
Apesar da tragédia que é a morte de uma moçoila de 8 anos num contexto porquê esse, a cobertura revelou-se insuficiente, fraca. A privação da Folha no enterro, ou ao menos o ignorância das declarações dos familiares naquela ocasião, fez o jornal ir detrás do TikTok enquanto a rede Kwai era colocada na mira, segundo o portal Metrópoles.
Era um pormenor num mundo em que “se você entrar no seu celular e colocar ‘repto do desodorante’, você pode escolher a qual quer presenciar”, porquê denunciou Kelly Luane, tia de Sarah, em reportagem do Estado de S. Paulo. Mas era secção da história.
Ainda que do ponto de vista individual seja importante delimitar as circunstâncias que concorreram para a morte de Sarah, do ponto de vista sistêmico é preciso olhar também para a floresta e buscar políticas públicas que envolvam e responsabilizem as plataformas de modo mais espaçoso. Mostrar dados e dar visibilidade aos casos deveria ser até óbvio para um jornal porquê a Folha.
Muro de um mês antes de vitimar Sarah, o mesmo repto havia resultado na morte de Brenda Sophia Santana, 11, em Pernambuco. A Folha ignorou o caso. É preciso um esforço maior para seguir essas histórias e vincular os pontos das circunstâncias complexas que as envolvem.
O Globo e o pediatra Daniel Becker, colunista do quotidiano carioca, mostravam um número que à primeira vista pode tanger pequeno, mas dá alguma dimensão dos registros de mortes em circunstâncias similares à de Sarah. Desde 2014, no Brasil, morreram ao menos 56 crianças e adolescentes em decorrência de desafios, segundo registros do Instituto DimiCuida.
O alcance e a ubiquidade das redes não permitem tratar essas mortes porquê episódios isolados ou menores, e a cobrança das plataformas deveria ir além do recolhimento das notas de tarar.
São essas empresas, finalmente, que podem escolher exprobar desenhos de mamilos, mas, em nome de uma suposta liberdade de frase, permitem a influenciadores lucrar moeda colocando crianças em risco. O desfaçatez do “faz quem quer” já não cola mais.
Na semana também houve uma operação policial contra quadrilhas online que agiam contra crianças e adolescentes. A lista de crimes era “tentativa de homicídio, persuasão e instigação ao suicídio, armazenamento e divulgação de pornografia infantil, maus-tratos a animais, apologia do nazismo e crimes de ódio em universal”. Dos 9 suspeitos encontrados, a maioria (7) era juvenil —inclusive o que foi assinalado porquê líder do grupo, de 14 anos.
Essas tragédias mostram a ponta de um ecossistema que deveria encontrar nos jornais cobertura mais ordenado e consistente. O erro de ignorá-lo beneficia uma estrutura perversa em que poucos ganham enquanto muitos perdem muito: tempo, atenção e vida, sem precisar trespassar de moradia.