Há uns 20 anos, implante capilar parecia plantação de eucalipto: um monte de fileirinha paralela brotando do escalpo. Eis, porém, que a ciência resolveu a questão. Tenho alguns amigos que fizeram implante e não dá pra proferir que suas jubas foram tiradas lá de trás da cabeça e replantadas no cocuruto. Outro dia fui trinchar o cabelo e o fígaro me disse que nem ele consegue mais proferir se as melenas deste ou daquele faceta são naturais ou replante. Disse-me que até alguns anos era preciso ir pra Turquia para conseguir bons procedimentos, mas que agora os médicos brasileiros não devem zero aos turcos. (Falou que os aviões São Paulo–Istambul partiam cheios de calvos e retornavam repletos de cabeludos. Imagino se não dava problemas com a foto do passaporte).
Quando eu tinha 17 anos e meus cabelos começaram a desabar, não havia o consolo de saber que um Esperidião Amin poderia, em poucos anos, se tornar um Sansão. Caiu, caiu, perdeu, playboy. Por isso, durante mais de duas décadas, tomei Finasterida. Mantive o cabelo, mas tinha que passar sempre pelo constrangimento, quando surgia o matéria: “mas Finasterida não é aquele remédio que deixa broxa?”.
Já tinha até uma resposta pronta. Dizia que só 1% das pessoas sofria deste efeito paralelo. E mesmo que eu sofresse, pensa: a broxada é um embaraço entre você e mais uma pessoa. (Ou você e uma meia dúzia, em caso de suruba —o que nunca foi muito a minha praia). Já o calvo entra no estádio do Morumbi e 50 milénio cidadãos avistam sua lustrosa cachola. Além do mais, com a Finasterida você tinha uma desculpa para uma eventual omissão: “o problema não é você. O problema não sou eu. O problema é o remédio. Você tinha que me ver antes desses comprimidos…”.
Nem todo careca é mal-parecido. Pega o Zidane, por exemplo. Um belo careca. Muito dissemelhante de um, digamos, PC Farias ou um George Costanza, do Seinfeld. Talvez tenha a ver com a profundeza. O careca baixinho tem seu coco pelado observado por toda a população. Já o careca cocuruto só é desvelado se descair pra amarrar os cadarços. (De modo que sugiro aos carecas altos usarem chinelos).
Cito o Zidane e me ocorre que sua cabeçada no italiano Materazzi, na final da Copa de 2006, ficou muito mais fotogênica com a glabra cabeçorra do que se tivesse a juba de um Casagrande. É uma vez que se Deus, sabendo o que ocorreria naquela partida, tivesse tido o zelo de tirar qualquer amortecimento entre a testa de Zinedine e o tórax do zagueiro.
Outro em quem a calvície fica muito muito é o ministro de STF, Alexandre de Moraes. O “Cabeça de Ovo”, uma vez que é chamado por seus detratores, justificação muito mais pavor sem nenhum cabelo do que se tivesse enternecedores cachinhos dourados. Fui dar um Google agora para ver uma vez que ele era no pretérito e foi só ortografar “Alexandre de Moraes c…” e a instrumento de procura completou “om cabelo”. Sugiro que faça o mesmo. Está vendo a foto? De quem você acha que Bolsonaro terá mais pavor, na hora de ser réprobo por sua tentativa de golpe de Estado? Sem incerteza, é o Xandão de 2025.
Aliás, outro dia vi um desses defensores da “anistia” aos golpistas dizendo que o STF estava querendo descobrir cabelo em ovo. Sugiro aos advogados dos acusados não levarem esse argumento ao plenário. Alguém ali pode se sentir ofendido.