Deus tem CNPJ? Porque tem gente faturando cimo com o nome dele

Nesse mercado místico, tudo é vendável: curso de reza, e-book de libertação, planner ungido, jornada dos 21 dias de conexão com o divino. A promessa de transformação místico vem acompanhada de boletos, que vencem antes mesmo do milagre chegar.

O sucesso estrondoso de projetos uma vez que Moca com Deus Pai, que se define uma vez que um “lifestyle cristão” e vende desde devocionais até agendas personalizadas, mostra que há uma sede real de conexão místico. Mas também mostra o quanto esse libido de sentido pode ser canalizado por lógicas de consumo e, mais perigoso ainda, de controle.

Essa lógica de controle também é política. A fé, domesticada e convertida em oração moralista, virou plataforma eleitoral. Constrói bancadas, elege pastores, influencia decisões no Congresso e sustenta projetos de lei que dizem proteger a família, mas atacam os direitos fundamentais de quem não se encaixa nesse protótipo idealizado.

São mormente as mulheres e as pessoas LGBTQIA+ que sentem esse impacto no corpo, nas escolhas, na maternidade forçada, na criminalização do monstro legítimo, na negação da existência e da autonomia. Também é sob essa fé de conveniência que o Estado tenta sufocar o livre manobra de outras crenças, principalmente as de matriz africana, uma vez que se Deus tivesse CNPJ e CEP fixo em templo evangélico.

Movimentos uma vez que o Legendários, por exemplo, têm ganhado força nas redes e em grandes eventos religiosos. Liderado por pastores influentes, o projeto se apresenta uma vez que um chamado para homens “voltarem ao propósito de Deus”, pregando uma fé que conecta masculinidade, disciplina e liderança místico. É um movimento que se autodefine uma vez que uma convocação para a guerra místico, com estética militar, linguagem de tropa e uma clara repartição entre “o que é de Deus” e “o que é do mundo”.

O oração parece inofensivo à primeira vista, mas embute uma fé disciplinadora, que ensina que há um único caminho de salvação, sempre pautado na obediência, na liderança masculina e na submissão feminina. Parece Deus, mas com algoritmo de coach. Um rebranding da fé para os tempos da performance.