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Você apostaria todas as fichas no 7 da roleta? – 14/04/2025 – De Grão em Grão

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Imagine um jogador de roleta. Ele observa a mesa, escolhe o número 7, se anima com a chance de multiplicar por 36 e aposta tudo ali. O problema não está no exaltação, mas no pormenor que ele esqueceu: há mais 36 casas além daquela.

É mais ou menos isso que acontece quando o investidor decide utilizar em Bolsa ou em juros apostando exclusivamente na vitória de um candidato específico para as eleições de 2026. De trajo, tenho observado a elevação de comentários otimistas em apostas na Bolsa brasileira, fundamentados somente na vitória de um candidato específico.

Não sou contra nem em prol de qualquer candidato, analiso cá somente o raciocínio da aposta. E ele segue uma lógica simplificada: “Se o candidato A vencer, a Bolsa sobe 40%. Logo, compensa investir agora.” Mas falta um pormenor importante: a matemática da incerteza.

A maioria dessas análises assume, mesmo sem proferir, uma verosimilhança de 100% daquele cenário suceder. É porquê se a eleição estivesse decidida, o desfecho guardado, e o mercado somente seguisse um roteiro de romance com final anunciado. Só que o mercado é muito mais multíplice — e definitivamente não é logo que se calcula risco e retorno.

Vamos melhorar um pouco mais essa conta para se aproxima de porquê se deve.

Suponha que o candidato A tenha 45% de chance de vencer e, neste caso, a Bolsa suba 40%. Por outro lado, o candidato B tem 55% de chance e, caso ganhe, o mercado caia 5%. O retorno esperado seria de 15,25%. E mesmo assim, estaríamos ignorando boa segmento da história.

Nascente retorno de 15,25% é similar ao retorno esperado para o CDI ou Selic nos próximos 12 meses. Logo, eu te pergunto: compensa investir em um ativo de risco para ter um retorno esperado similar a outro ativo de ordinário risco?

Investir com base somente no desfecho eleitoral é porquê jogar xadrez enxergando só o próximo movimento. Os mercados não reagem só aos fatos, mas às expectativas já precificadas. Se todos já acreditam na vitória de um candidato e se posicionam para isso, o resultado pode até ser positivo e, mesmo assim, provocar queda nas ações. Surpreender o consenso é mais importante do que convencionar o resultado.

Outrossim, a eleição é somente uma das variáveis. Há política fiscal, inflação, juros globais, conflito geopolítico, desempenho da China e muito mais. Ignorar essas outras peças no tabuleiro é subestimar o jogo. Investir não é fazer torcida, é tarar os cenários possíveis, atribuir probabilidades e ponderar retornos. Não basta projetar o melhor caso — é preciso se perguntar: e se zero trespassar porquê esperado?

O erro mais generalidade está em superestimar a transparência dos cenários e subestimar a incerteza real. A política costuma dominar os debates, mas o que realmente move os preços é a surpresa, não a expectativa. E não existe surpresa em um cenário que já está no radar de todos. O preço da eleição, em grande segmento, já está refletido nos ativos — o que resta é o imprevisível.

O que muitos chamam de coragem, às vezes, é somente otimismo mal calibrado. Por isso, antes de apostar no 7 da roleta do mercado, pergunte-se: e se desabar no 12? ou no 23? A construção de um bom portfólio começa com a confirmação de que o porvir não cabe em um único cenário — e muito menos em uma torcida eleitoral.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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