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Maturidade traz solidão emocional – 11/04/2025 – Mariliz Pereira Jorge

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Depois de alguns anos casada, achei justo ter uma cerimônia, mesmo que fôssemos nós dois. Aproveitei que faríamos uma viagem a Tailândia, pedi o conje em tálamo por telefone, contratei uma filial e acertei os detalhes pelo WhatsApp, com recta à decoração, chuva de pétalas de flores e três monges.

Precisa de uma roupa adequada para o pé na areia. Também pela internet encontrei uma saída de praia chiquíssima, dessas que eu não usaria num dia normal de sol, mas perfeita para a ocasião. Só faltava ver se no meu corpo ficaria tão muito quanto no da padrão da foto. Uma amiga se ofereceu para me escoltar e dar pressentimento. Achei bobagem ocupar seu tempo. Era só um vestido.

Me achei muito divindade gata praiana. Mas ali, sozinha, ao ver minha imagem no espelho, chorei. Desmoronou a mulher adulta, prática e muito resolvida e eu tive saudade de quando não respondia uma mensagem no celular sem consultar uma amiga, minha mãe ou uma quiromante. Da idade em que a inexperiência para a vida me permitia dividir inseguranças reais ou infundadas, tirar dos ombros a responsabilidade de carregar sozinha os erros por minhas escolhas.

Essa conversa não é sobre vestidos.

A maturidade traz muita solidão e não é por falta de rede de base, de amigas e amigos carinhosos e prestativos. Sei que estarão lá em todos os momentos que meu estômago se revirar de nervoso ou se eu quiser unicamente uma opinião sobre desembolsar um rim para dormir em lençóis de algodão supima.

Mas às vezes o mundo está acabando e eu insisto em me salvar sozinha ou esperar a próxima sessão de terapia para não incomodar. Não quero que os meus problemas sejam de mais ninguém porque todo mundo parece meio ferrado, sem tempo ou sossego. Sempre me pergunto se preciso de um pescoço, um banho de mar ou uma talagada de ansiolítico. Talvez passe se dormir. Falo para mim mesma que amanhã é outro dia. Comecei a dormir em cima dos problemas, porquê aconselham. Quase nunca funciona porque são eles que atrapalham o sono. Quando amanhece não unicamente continuam lá no mesmo lugar porquê ainda tenho que mourejar com eles sem conseguir raciocinar.

Queria ser unicamente ridícula e infantil e pedir socorro mesmo que não haja ameaças verdadeiras. De vez em quando peço um amplexo ao meu marido, mas nem sempre ele entende que é pavor da vida e não uma tentativa de sexo rápido no meio do galeria. Não quero ser a mulher poderoso e analisada o tempo inteiro. Quero voltar à idade de poder chorar de soluçar e fazer beicinho e lucrar um copo de chuva com açúcar para me acalmar e ouvir que vai permanecer tudo muito.

Saudade do tempo em que eu poderia assumir que muitas vezes sou despreparada para mourejar com decepções, perdas, lutos e cobranças. Ou pelo menos não ter que enfrentar essas questões porquê a adulta que esperem que eu seja. Assumir minhas inseguranças, pedir ajuda quando estou triste ou uma opinião sobre um vestido de tálamo, sem pavor de parecer carente, fútil ou histérica.


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