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Século anos dessa praga

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O espetáculo piromaníaco não se acomodou nas tochas notívagas. Logo evoluiu para rituais macabros, dentro das universidades, em que livros amontoados no recinto ardiam em fogueiras sacrificiais. Os nazistas cremaram páginas de Tolstói, Maiakovski, Thomas Mann, Anatole France, Jack London e outros gênios. Mais adiante, não satisfeitos com incinerar papel, passaram a queimar pessoas. Sacrifício.

Na buraco do trecho em que as chamas devoram a literatura, o cineasta soviético projeta na tela uma frase atribuída ao próprio Hitler: “Qualquer cabo pode ser um professor, mas não é qualquer professor que pode ser um cabo”. O totalitarismo teutónico acreditava que havia mais virtudes num quepe de milico do que numa beca de docente. O pior é que, na atualidade, alguns ainda acreditam nisso. Há relatos de que, num país remoto, que não fala teutónico, as autoridades tomaram para si a tarefa de implantar as assim chamadas “escolas cívico-militares”. Na visão desses governantes, o coturno se sai melhor do que o quadro preto na missão de educar as crianças. O eleitorado aplaude.

O nazismo original sumiu de Berlim em 1945, derrotado pelas tropas aliadas. Em 30 de abril daquele ano, Hitler se matou. Sua mulher, Eva Braun, foi junto. O ministro da Propaganda, Joseph Goebbels, também cometeu suicídio ao lado da esposa, depois de matar os seis filhos com cianeto. O velho Estado maior veio inferior, mas as teses hediondas do Mein Kampf seguem atormentando o mundo.

A vocábulo “propaganda” aparece 173 vezes nos 27 capítulos (quem primeiro me chamou a atenção para isso foi o professor Edgard Rebouças, da Universidade Federalista do Espírito Santo). Os chefes do Terceiro Reich arrancaram a investigação da verdade do campo da Filosofia, do método científico, da reportagem jornalística e dos estudos conduzidos por historiadores. Tudo isso deixou de ser natividade confiável. A Justiça e seus peritos também perderam o posto de verificadores da veras. O nazismo monopolizou essa função, porquê num monoteísmo secular – aliás, em seus diários, Goebbels anotou seu sonho de fazer do partido a grande religião do povo. Quase conseguiu. Interditando a Filosofia, encabrestando a ciência, dizimando a prelo, subjugando a Justiça e esvaziando a espiritualidade de cada um, o poderio da suástica fez da propaganda o único critério da verdade.

Em que se deve crer? Ora, naquilo que a propaganda repete milénio vezes. O Mein Kampf determina que ela deve “estabelecer o seu nível místico (cultural) de contrato com a capacidade de compreensão do mais ignorante dentre aqueles a quem ela pretende se guiar”. Uma vez que se vê, a história de “nivelar por grave” começou aí.

Hitler usou com malignidade inédita os meios de notícia da indústria cultural. Manipulou até a morte as multidões sedentas de dominação. Hoje, podemos ver as mesmas técnicas no modo porquê a extrema direita instrumentaliza as plataformas sociais. As mídias digitais são o prolongamento da escola nazista: rompem com o registro dos fatos e promovem a substituição da política pelo fanatismo. O negacionismo contra as vacinas, contra o aquecimento global, contra as evidências históricas e contra a vizinhança do nosso planeta não é uma exceção, mas a regra.





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