A prensa alemã fez patente fragor nesta semana ao vulgarizar as conclusões de um relatório sobre as origens do vírus causante da Covid-19. Segundo os jornais Die Zeit e Süddeutsche Zeitung, o serviço de lucidez da Alemanha, o BND, teria concluído, ainda em 2020, que provavelmente o vírus “escapou” por acidente de um laboratório na cidade chinesa de Wuhan. A desfecho, porém, só veio a público agora com o vazamento nos jornais, e o governo teuto não quis comentar o relatório.
O que o BND diz também é que o FBI concluiu em 2023 (ainda que num nível de crédito mais grave). Será que essa concordância deveria ter um peso grande para a visão que temos sobre as origens da pandemia? E, mais importante ainda, deveria influenciar a maneira uma vez que nos preparamos para enfrentar pandemias do porvir?
Por enquanto, creio que a resposta mais segura é “não”, e um “não” principalmente enfático no caso da segunda pergunta. Tentemos examinar o porquê.
Primeiro, o problema de concordar acriticamente qualquer conclusão alcançada por agências de inteligência/espionagem, mesmo as de países democráticos, é que transparência nunca é o possante desses órgãos. Quase por definição, não é provável saber em que fontes estão se baseando para dar mais peso à hipótese do “vazamento de laboratório” do vírus Sars-CoV-2, o causante da pandemia.
Outrossim, não parece plausível que eles tenham uma estrutura laboratorial e de estudo de amostras de tecidos e material genético viral própria e totalmente separada da comunidade científica de seus próprios países, que lhes permita fazer sua própria pesquisa básica e chegar a conclusões diferentes das dos pesquisadores “civis”.
O problema mais largo e mais sério, porém, talvez seja o da própria plausibilidade acerca de uma vez que novos causadores de doenças emergem e se espalham. O que direi agora pode tanger decisivo demais para quem não está familiarizado com o tema, mas é a pura verdade: descartando a Covid-19, sabe quantas pandemias vieram de um laboratório? Zero. Nenhuma. Caso se confirme que o Sars-CoV-2 vazou mesmo de um tubo de tentativa ou placa de Petri chineses, seria o primeiro e único caso.
Isso não significa que patógenos não “fujam” de laboratórios de vez em quando, nem que alguns tipos de pesquisa biomédica com eles não sejam potencialmente perigosos. Mas: 1)micro-organismos e vírus fujões costumam provocar, no sumo, surtos localizados, porque sua capacidade de espalhamento é finita sem um “bombeamento” permanente da nascente laboratorial; 2)modificá-los para que sejam principalmente perigosos e contagiosos é menos simples do que parece. Sabemos pouco sobre uma vez que produzir um patógeno pandêmico.
Um pouco assim pode ter realizado em Wuhan? Não dá para descartar essa possibilidade, embora as evidências disponíveis e verificáveis hoje apontem, via de regra, para uma origem originário.
De qualquer maneira, a verosimilhança de que uma novidade pandemia apareça a partir da interação entre seres humanos e outras espécies de mamíferos e aves, principalmente as que encontramos com o desmatamento, a intensificação agropecuária e o tráfico de animais silvestres, continua sendo o que sempre foi: muito subida. E é aí que mora o principal transe.