“Apesar de ouvirmos com frequência que homens-fortes são gênios da estratégia, poucos deles, ou talvez até mesmo nenhum, seguem um projecto diretor. Seus verdadeiros talentos não são os do rabino de xadrez, mas os dos valentões de rua e vigaristas: rapidez para extrair o sumo das oportunidades que lhes são oferecidas, habilidade para fazer com que as pessoas se liguem a eles e acreditem em suas ficções, e a disposição para fazer qualquer coisa para obter a domínio absoluta pela qual anseiam. A maioria deles termina com muito mais poder do que nunca imaginou”.
O diagnóstico supra é da historiadora americana Ruth Ben-Ghiat (Universidade de Novidade York). Ele parece nas páginas finais de “Strongmen” (homens-fortes). O livro pode ser descrito uma vez que uma tentativa de entender ditadores e líderes populistas de direita, analisando as características que os unem e, dentro delas, uma vez que diferem um do outro. Essas diferenças, é bom frisar, podem ser grandes.
Ben-Ghiat escrutina as trajetórias de Mussolini, Hitler, Franco, Gaddafi, Pinochet, Mobuto Sese Seko, Berlusconi, Erdogan, Putin e Trump. Outros líderes de mesmo jaez, uma vez que Bolsonaro, Duterte, Modi e Orbán, fazem aparições mais breves, uma vez que coadjuvantes.
A autora mostra uma vez que eles ascenderam ao poder, uma vez que se utilizaram de nacionalismo, propaganda, virilidade (incluindo catálogos de seus apetites sexuais), prevaricação e violência —as ferramentas para exercê-lo— e uma vez que eventualmente caíram. Autocracias e ditaduras são sempre mais instáveis do que democracias.
O livro é de 2020. Isso significa que cheguei a ele com um quinquênio de detido. A morosidade acabou criando um efeito interessante. Os traços autoritários que ela aponta em Donald Trump são ainda os do primeiro procuração e anteriores à invasão do Capitólio. Se já tínhamos motivos para nos preocupar, temos agora muito mais razões para angústia, pois o que vimos nestas primeiras semanas de segundo procuração são as piores características elevadas ao cubo.