Talvez tenha sido o alinhamento de uma fanfarra tocando as notas finais de “Robustez de Gostosa” às seis da manhã com a ressaca moral, ainda, por “Anora”. Não me pergunte o motivo exato. Só sei que levantei da leito, joguei um seta na folhinha e achei a data perfeita para reclamar de tudo: hoje.
Ranzinzas contumazes hão de cuincar, na micareta de seus “Porquê assim??? Reclamação é todo dia!”. No entanto, penso que a janela ideal para o mau-humor coletivo tenha se cândido na versatilidade das últimas 24 horas de gente protestando que pulou pouco, que pulou demais, que o carnaval vai perfazer, que a semana vai iniciar e que nossos memes favoritos do Oscar perderam a validade.
Na confluência de todos os bloquinhos possíveis da rabugice popular, percebo-me foliã insuficiente no que toca à flanco dos casmurros e birrentos. Até porque, em universal, sou justamente reputada pelo alalaô da minha positividade tóxica, quiçá fantasiada de Pollyanna Moça já não tão moça assim.
O que não me impede, é simples, de saber o valor terapêutico e carnavalizante de um bom ranço ventilado aos quatro ventos pela Sapucaí de nossas angústias, feito o esplendor e a glória de milhões de Nabucodonosores cansativos. Espero, exclusivamente, não ser o reservatório de tantas chatices neobabilônicas.
Por essas e por outras, testei a melhor instrumento para livrar ouvidos alheios dos mais enfadonhos bundalelês de reclamação: a estupidez proveniente da inteligência artificial. Não dizem que serve para otimizar tempo e nos livrar de tarefas ingratas? Pois logo. Vem, vem, vem, vem! Para ser feliz: reclame A.I. E observe tudo que ela pode fazer por você, sem prejuízo ao ziriguidum do politicamente correto e prenúncio de cancelamento recreativo.
Digitando “Reclame por mim da tal Mikey Madison”, a perceptibilidade vai replicar, no miudinho: “Quem? Aquela lambisgoia?”. Das reclamações mais sociológicas (“por obséquio, meta o malho na injustiça social brasileira, nível: conversa em fileira de farmácia”) às frivolidades mais aleatórias (“Crie uma treta padrão tiktok envolvendo usuários de meia branca com sapato preto, ENTER”), a perceptibilidade sintético será a melhor câmara de repercussão para opiniões rasas, virulentas – e privadas – sobre cafés fortes demais, fracos demais, sensações térmicas de 60°C e a temporada atual do BBB.
Um bug provável, porém, é pedir: “IA, por gentileza, reclame de mim”. Enfim, ela é puxa-saco e não terá outra resposta. “Você? Imagine: só você é DEZ! NOTA DEZ!’.
