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Washington Post é o jornal solene de Trump? – 03/03/2025 – Juliano Spyer

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A noção de que “um bom jornal é uma região conversando consigo mesma” deixou de ser verdade para o Washington Post. Desde a semana passada, a publicação aceita exclusivamente artigos opinativos que defendam as liberdades individuais e econômicas. Teria se tornado, uma vez que dizem os críticos, o veículo de notícias solene do trumpismo?

“A sociedade não precisa de jornais, o que precisamos é de jornalismo“, escreveu em 2008 Clay Shirky, professor e pesquisador da Universidade de Novidade York. Para ele, o repto era deixar de pensar em salvar jornais uma vez que protótipo de negócio para, em vez disso, salvar a sociedade. Isso traria a motivação para reimaginar o jornalismo a partir de outros modelos.

O jornalista e pesquisador russo Andrey Mir, ligado à Universidade de York, no Canadá, aprofunda essa estudo. Em seu livro mais famoso, “Post-Journalism and the Death of Newspapers” (Pós-Jornalismo e a Morte dos Jornais), ele argumenta que o trumpismo evoluiu a partir do mesmo contexto que produziu movimentos de negação uma vez que a Primavera Árabe e o Occupy Wall Street.

Mir sustenta que não há uma intenção maliciosa ou uma conspiração por trás da polarização política. O protótipo de negócio de veículos tradicionais uma vez que o Washington Post dependia da fabricação de consensos para casar leitores com visões de mundo diferentes. Mais leitores significavam mais receita publicitária. Mas a horizontalização do aproximação à mídia tornou esse protótipo obsoleto.

Por que remunerar por notícias se elas não estão mais limitadas à materialidade do papel, do rádio ou da TV e podem ser copiadas, coladas e redistribuídas infinitamente online? E uma vez que competir pela atenção do público com youtubers que entregam seu teor gratuitamente nas redes sociais?

Jeff Bezos, bilionário dono do Washington Post, justifica a mudança na política editorial do jornal com base nessa mesma lógica da exuberância de teor. Em nota publicada no X, ele afirmou que, no pretérito, os jornais ofereciam aos leitores “uma seção de opiniões de base ampla que buscava revestir todas as visões. Hoje, a internet faz esse trabalho”.

A teorização de Mir explica a trajetória recente dos jornais —não exclusivamente do Washington Post— de substituir a fabricação de consensos pela escolha de um dos lados do debate político polarizado. Em um cenário em que todos têm aproximação à mídia, é o dissenso, e não mais o consenso, que impulsiona a mensagem.

Essa mudança, segundo Mir, força o jornalismo a se transformar em “propaganda financiada por vaquinhas online”. O apelo para financiar o serviço passa a ser “proteger a democracia” ou “combater o comunismo”. “Os membros pagantes não pagam para receber as notícias (eles já as conhecem)”, escreve Mir. “Eles pagam para que as notícias sejam distribuídas para outros.”

A polarização não é um efeito paralelo, mas uma requisito para o sucesso desses negócios. Pessoas mais ansiosas tendem a concordar mais seu veículo preposto. A perspectiva que Mir apresenta sugere que publicações uma vez que o New York Times, que criticaram a decisão de Bezos, estão mais próximas do Washington Post do que admitem.


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