O hit do verão é a polêmica “Descer pra BC”, da dupla sertaneja Brenno & Matheus, que desde o lançamento em 4 de dezembro vem dominando todas as paradas de sucesso. Apesar das intensas críticas, “Descer pra BC” exemplifica a crescente incorporação da música eletrônica por diversos gêneros populares nacionais.
A dupla Brenno & Matheus tem dez anos de história. São nascidos e criados em Astorga (PR), cidade onde também nasceram Chitãozinho & Xororó. Quando sugeriram aos compositores João Dalzoto e DJ Ari SL o tema da melodia, buscavam exclusivamente manter o sucesso lugar. O tema de “Descer pra BC” parecia só fazer sentido aos paranaenses que “descem” para Balneário Camboriú todos os anos, alimentando a mística da Dubai brasileira. Mas o sucesso foi pátrio e veio a cavalo.
Artistas famosos cantam a música nas redes sociais, num misto de empolgação e fastio com a onipresença do hit. O indefectível Luciano Hang, espargido porquê “o véio da Havan”, entrou na vaga e fez propaganda de sua loja com a dupla. Brenno & Matheus participaram de réveillon na Avenida Paulista e, nos primeiros dias de 2025, desceram para BC. A melodia tem atualmente 86 milhões de audições no Spotify e 47 milhões de views no Youtube.
A maioria dos que comentam nas redes sociais critica a melodia. “Achei que seria ruim, e foi pior!”, escreveu um internauta. “Essa música faz a gente reputar as coisas simples da vida, tipo o silêncio”, lamentou outro. “A última trombeta do apocalipse é essa música”, proclamou alguém.
Críticos musicais porquê Régis Tadeu condenaram-na porquê a pior melodia da história da música brasileira. O youtuber sertanejo Dudu Purcena a elegeu a pior música lançada em 2024 e criticou aqueles que chamam “Descer pra BC” de sertanejo. O youtuber Vinheteiro acusou “Descer pra BC” de ser plágio de “Ragatanga”, sucesso do início do milênio do grupo Rouge. No mundo do algoritmo, “Descer pra BC” cresce com o ódio.
Realmente a melodia soa parecida a várias referências de alguma coisa que ouvimos anos detrás. O quina extremamente anasalado e heteróclito de Brenno & Matheus tem muita semelhança com as vozes de Bruno e Barreto, que em 2016 viraram motejo pátrio pelo quina inexplicável no programa Encontro, de Fátima Bernardes.
A estética do clipe de “Descer pra BC” é idêntica àquelas produzidas por Kondzilla para o funk ostentação paulista. E a letra, que conta a história de um herdeiro que curte a vida aloucado, não é muito dissemelhante da narrativa de “Camaro amarelo“, sucesso fugaz de Munhoz & Mariano de 2012.
No entanto, os críticos e os fãs parecem tomar porquê oriundo alguma coisa que esta música nos propõe implicitamente. Ela ilustra a ascensão da música eletrônica ao status de hit do verão.
O que há de generalidade entre as músicas da sertaneja Ana Castela, os funks de Oruam, o hip hop de Emicida, os hits de Anitta, canções porquê “Macetando”, de Ivete Sangalo, a psicodelia de bandas porquê Baianasystem, o rap de Racionais MCs e o piseiro de João Gomes? Todos eles são profundamente marcados pela música eletrônica.
Já faz um tempo que as massas normalizaram o uso de instrumentos eletrônicos. Em grandes festivais de música, porquê o Rock in Rio, labareda a atenção a grande quantidade de artistas que abandonaram os instrumentos tradicionais no palco e tocam simplesmente com um DJ.
“Descer para BC” foi composta pelo DJ Ari SL, que também foi produtor, arranjador, mixador, masterizador e aparece no clipe da melodia. No mundo do algoritmo, a música feita digitalmente dita o padrão estético de nossos ouvidos massivos.