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Política pátrio e mundial:trocando história por histerismo – 25/01/2025 – Muniz Sodré

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Passou sem comentários o diagnóstico de histerismo, por um ministro do STF, sobre os atos extremistas que culminaram no ataque golpista do 8/1. Referia-se não só às depredações, mas ao desunido comportamento de volume que oscilava entre orações a pneus de caminhão, marchas patéticas e fragmentos verbais sem contexto.

É provável que a desatenção se deva ao pensamento estranho a padrões jurídicos. Magistrados não trafegam na via psiquiátrica. Roupa, porém, é que o noção de histerismo perdeu exclusividade freudiana, emigrando para reapropriações no campo socioestético, designáveis porquê “histeresia”. Em “Histerismo na Mídia”, Raquel Paiva aplica com propriedade essa teoria ao exposição compulsivo e redundante da mídia. Uma visão próxima à estudo existencial que demonstra o caráter secundário e inautêntico do locutório (Heidegger).

Histerismo é doença da representação, afetada pela repressão sexual.

Teatro pervertido das proibições introjetadas, o corpo é impelido a exibir-se por fala e atuações. Em formas convulsivas se registram possessões ditas “demoníacas”. Há relatos de letramentos obscenos esculpidos por sintomas na pele de internas em conventos europeus. Material-prima para bispos e Hollywood.

Aí se inscrevem fenômenos coletivos com eloquência histérica. Nos cultos sectaristas se diz falar com Deus, supostos aleijados passam a marchar, e tatibitate extravagante vira língua do Santo Espírito. Zero estranho, aliás, à crônica social do próprio STF: um dos pares, na celebração televisada de sua aprovação pelo Senado, acalmou com mão de experimentado a primeira-dama da quadra em lenga-lenga maníaca aos pinotes.

Supunha-se que a morfologia da histerismo, típica da velha sociedade disciplinar, tivesse oferecido lugar à depressão, que é sem caráter e sem forma saliente. Daí o interesse da perspectiva de Paiva, que introduz a mídia porquê sujeito-agente do retorno histérico, agora exponenciado pelas redes sociais, vetores da promiscuidade do tudo-dizer porquê forma ilusória de tudo-poder. O estresse erosivo do caráter produz subjetividades dóceis, sabor-mercado.


Mediado por redes e cultos, o deslocamento dessa afecção patológica para o campo político alojou-se no extremismo de direita, rudimento para a anomalia, pela natureza exasperada, das normas. Mas bolsonarismo não é ideologia, e sim doença sazonal, flatulência para extravasamento do ódio à escolarização. Um espasmo grotesco, desde a quebra de boas maneiras até comportamentos histéricos, porquê a exibição fálica de armas. Icônica é a cena da parlamentar de braços estendidos e revólver nas mãos perseguindo um varão preto. A troca de escolas por redes, agentes do contágio, é a via ressentida dos sintomas.

Fenômeno transnacional. A América é um mega reality show que elege presidentes. Em seguida um depressivo, uma besta apocalíptica: Trump, autocoroado imperador de Marte, com seu caldeirão de maldades, estimulando malfeitores e ameaçando indefesos. Saudação nazista de Musk e muita farofa intimidatória.

Já o fanático Milei, um possesso na campanha, é hoje indiferente neoliberal no poder, cauteloso a “his master’s voice”, a voz do possuidor, não mais aboiando manada. Entre nós, quem mugiu de boi zebu agora chora porquê terneiro exúbere. Vacina para histerismo não há, mas a democracia tem suas astúcias.


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