Não? Logo vá!
Às vésperas dos 137 anos da abolição da escravatura (em 13 de maio de 1888), tomo a liberdade de apropriar os versos originais de Dorival Caymmi (“Você já foi à Bahia, nêga?/Não?/Logo vá!”), cantor e compositor de prosápia africana, para sugerir esse fado turístico vernáculo aos leitores.
Localizada na superfície portuária do Rio de Janeiro (englobando os bairros da Saúde, Gamboa e Santo Cristo), a Pequena África é um dos “encantos milénio” da “cidade maravilhosa”. O lugar é pujante e concentra história, música, religiosidade, cultura e gastronomia afro-brasileira.
A denominação Pequena África deriva da adaptação do sobrenome “África em Miniatura”, cunhado pelo compositor Heitor dos Prazeres (1898-1966) por conta da grande concentração de negros libertos que se deslocaram para essa região da portanto capital da República, onde uma comunidade de origem africana já estava pré-estabelecida.
O lugar é símbolo da resistência negra à escravização —uma das maiores atrocidades já cometidas contra a humanidade. Marcos importantes da história do Brasil estão situados por lá, a exemplo do Cais do Valongo, o Cemitério dos Pretos Novos, a Pedra do Sal, o Morro da Providência e a mansão de tia Ciata (a matriarca do Samba).
No núcleo do Largo da Prainha, a estátua de Mercedes Baptista (a primeira bailarina negra do corpo de dança permanente do Teatro Municipal do RJ) serve de lembrete de que todo talento prescinde de oportunidade para desabrochar.
Uma visitante à Pequena África ajuda a entender a origem da extrema desigualdade étnico-racial vigente no nosso país e evidencia a valor de ações afirmativas. Por fim, as conquistas e vitórias da vida não são simples questões de valor.
Caso zero disso lhe desperte interesse, vale referir que o lugar é considerado um dos mais “descolados” do mundo pela TimeOut, publicação global que oferece dicas de viagem. Um tour pela Pequena África é uma experiência reveladora. Fica a dica.