Conecte-se conosco

Esporte

18 de fevereiro: dia da solidariedade da mulher do Saara – 16/02/2025 – Bianca Santana

Published

on



“Eu nunca tinha ouvido sobre o Saara Ocidental.”

A frase a mim repetida tantas vezes desde que publiquei dois textos sobre o país ocupado pelo Marrocos“Como é a vida para as mulheres no último país da África sob colonização” e “Saara Ocidental: quando o Brasil vai reconhecer a soberania do país?“— me motiva a ortografar.

Até 2022, eu também quase não tinha ouvido sobre o Saara Ocidental. Foi em um encontro feminista no Quênia que Mahfouda Lefkir me explicou da ocupação marroquina na extensão, iniciada em 1976. Mahfouda me pediu para visitar sua lar, na cidade de Layooune, para que eu mesma pudesse testemunhar a violência.

Até a metade de 2023, não achava que teria condições de atender o pedido. Quando recebi financiamento para a viagem, acreditei que o principal duelo estava vencido.

Não fazia teoria de que mais de 300 jornalistas e observadores tivessem sido deportados do Saara desde 2014. Nem das constantes denúncias da ONG Repórteres Sem Fronteiras à restrição marroquina à liberdade de imprensa. Dos 180 países avaliados pela organização para o seu Ranking Mundial de Liberdade de Prensa em 2024, o Marrocos ocupa a posição 129. O Brasil está no 82º lugar.

Quando conversei com Laura Daudén, autora de “Nem Silêncio Nem Guerra: Três Décadas de Conflito no Saara Ocidental”, e Bianca Pessoa, do Capire, que produziu o documentário “Uma Bandeira Fincada na Areia: Mulheres Saarauís Construindo Soberania”, fui compreendendo que o cenário era mais multíplice.

As diretoras da Vivenda Sueli Carneiro, a jornalista Mariana Belmont e uma dezena de especialistas foram fundamentais para que desenhássemos os protocolos que me permitiram não ser deportada.

Durante os preparativos, o jornalista saarauí Ahmed Ettanji, exilado na Espanha, sintetizou os cenários prováveis: em caso de sucesso inteiro, eu entraria em Laayoune, entrevistaria Mahfouda e mandaria tudo para o Brasil antes de a polícia chegar e eu ser interrogada e deportada. Em caso de sucesso parcial, eu entraria em Laayoune, gravaria um pouco com Mahfouda, mandaria parcialmente o teor para o Brasil antes de a polícia chegar e eu ser interrogada e deportada. E, em caso de fracasso, eu não passaria do aeroporto e voltaria para Casablanca no mesmo voo.

Diferentemente dos jornalistas saarauís e marroquinos que são presos, torturados, assassinados, jornalistas estrangeiros costumam ser deportados sem maiores violências. Entrei e saí em um cenário ainda melhor que o de sucesso inteiro.

Mas o pânico que senti quando fui interrogada, ao entrar no país, ao ser o tempo todo seguida na rua e ao me dar conta da quantidade de câmeras, homens fardados e bandeiras do Marrocos fincadas a cada cinco metros me mostrou porque Mahfouda insistiu na minha visitante. É difícil dimensionar a tensão e a violência estável em que vivem as mulheres do território ocupado sem caminhar por ele.

Depois das cenas de filme de proeza que nunca desejei testar —com o ridículo de passar na rua antes de entrar num coche e deitar no banco de trás—, passei 36 horas no apartamento de Mahfouda, ouvindo algumas das histórias que contei na pilastra e na newsletter da Fósforo.

Em dezembro de 2024, estive no campo de refugiados saarauís na Argélia, onde conheci a dor de mulheres que não encontram seus parentes há décadas, separadas por um muro de 2.700 km construído pelo Marrocos, uma das maiores barreiras militares do mundo. Vi a coragem de mulheres que dedicam seus dias a procurar e desativar minas explosivas espalhadas pela areia.

Por pouco tempo vivi o duelo de não ter um chuveiro em meio ao pó e ao calor do deserto, duelo leste que tantas delas enfrentam diariamente. Sigo estudando e aprendendo com as mulheres saarauís sobre a liberdade. A elas, toda a minha solidariedade.

Uma vez que secção da iniciativa Todas, a Folha presenteia mulheres com três meses de assinatura digital grátis


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul inferior.



Acesse a fonte

Continue lendo
Clique para comentar

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Chat Icon